Capítulo III
Entrei na pior fase de todo o processo e parece interminável. O fofinho do médico deu a entender que, caso não haja melhorias no colo do útero, que temos de pensar noutras opções. Não precisou de ser mais claro. Eu entendi e não gostei.Voltou poucas horas depois. As contrações, segundo ele, não podiam ser melhores do que tinha, mas só tinha aumentado meio dedo de dilatação. Segundo o fofinho, quando se rebentam as águas, passados 30 minutos, no máximo 1 hora, as mães já entraram na fase ativa do trabalho de parto e que não fazia qualquer sentido eu não estar nesse ponto. Explicou que, nestes casos, só no momento da cesariana é que os médicos percebem o que estava a impedir o parto normal.
A partir deste momento foi tudo muito rápido, demasiado rápido. Não consigo reproduzir, na minha cabeça, todos os passos, apenas tenho presentes fragmentos, sentimentos, imagens.
Assim que o fofinho saiu do quarto não tive tempo para me despedir de quem lá estava pois logo a seguir entraram enfermeiros para me levarem. Comecei a tremer descontroladamente. Os olhos encheram-se de lágrimas, o lábio inferior não parava de tremer e as mãos e pés suavam non stop. Estava com os nervos ao máximo.
Ia entrar na sala de partos quando deram ordem para não o fazer pois ia entrar outra grávida, com uma situação mais urgente. Levaram-me para outra sala, onde esperei. Ainda bem que assim foi pois deu-me tempo para acalmar e controlar. Deu tempo para o T. chegar, caso contrário, acho que podiam ter começado sem ele. Mas mal me vieram buscar comecei outra vez a tremer. Entrei na sala. As enfermeiras, também elas fofinhas, perceberam o meu estado e brincaram comigo o tempo todo. Lembro-me de a enfermeira dizer "estão a ouvir esta música? Daqui a uns anos digam à Carolina que era esta a música que estava a dar minutos antes dela nascer". Adorei a sugestão, mas a adrenalina era tanta que nem eu, nem o T. nos lembramos de qual era a música. Apenas que era um clássico dos anos 80. Tirando este episódio, recordo-me de ser tudo rápido, de me estarem a dar a RAC, de não sentir o corpo, de me baixarem o "lençol" e eu ver as mãos e pés dela a sairem da minha barriga, de ouvir a médica a dizer ao fofo que ela estava a deitar a língua de fora, ainda não a tinham tirado da minha barriga, de ouvir um choro muito curto e tímido, de a colocarem em cima do meu peito assim que saiu da minha barriga e desse ter sido o momento mais mágico do dia inteiro. Mentira, da vida inteira. Nesse momento, senti-me como nunca me tinha sentido antes. A felicidade apoderou-se de mim, entendi o verdadeiro significado de clichés como "amor à primeira vista" ou "dar outro significado à vida", entre outros sentimentos arrebatadores que me deixaram num estado de hipnose. Desliguei de tudo o resto que estava à minha volta e só ela é que interessava.
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