sábado, 25 de maio de 2013

O dia D

Capítulo IV

Depois dum momento mágico, tiram-me a C. para a limpar e fazer os habituais testes. Não sei quanto tempo demorou até voltar para os meus braços, mas lembro-me do T. chegar com ela limpinha, de barrete e mantinha. Já não larguei mais! A sensação é indescritível e sem dúvida o sentimento mais arrebatador que alguma vez senti e que irei sentir. Deixei de querer saber o que se passava à volta. A partir daquele segundo a minha vida ganha outro sentido (sim, é super cliché, mas é tão, tão verdadeiro) e eu só consigo olhar para ela, sentir o cheiro dela, decorar o nariz, as mãos, tudo... quero olhar para a minha filha até a saber de cor.
Saímos do bloco operatório para entrar no recobro onde ia ficar duas horas. O horário das visitas terminava às 22h e não havia hipótese da malta que tinha esperado ansiosamente, o dia todo no hospital, de nos ver no regresso ao quarto, porque já seria quase meia-noite. Qual foi o meu espanto quando estavamos a atravessar as portas do recobro quando voltamos para trás e paramos. Olhei para a esquina e tinha lá a família toda a espreitar. O fofo mais fofinho tinha-lhes permitido darem um espreitadela, ao longe, antes de voltarem para casa. Eu estava tão anestesiada de C. que olhei, vi que eram muitas pessoas, mas se me perguntassem quem estava lá, eu não sabia responder.
No recobro puseram-na imediatamente ao peito onde ficou uma hora. Foi um prenúncio da glutona que seria. Não dei pelas duas horas passar. Continuava anestesiada de C.
Voltámos para o quarto. Estava o T. à nossa espera. Quando o vi, desceu o resto da adrenalina do dia inteiro e comecei a tremer. Senti um cansaço a invadir-me o corpo e foi o primeiro momento em que a larguei. Pedi-lhe que ficasse com ela 5 minutos para eu acalmar, descansar e recuperar forças para a noite que se aproximava. Dei-a ao pai, mas assim que o fiz arrependi-me. Não estava preparada para a largar tão cedo. Racionalmente sabia que precisava daqueles minutos de descanso, mas emocionalmente era demasiado cedo para a entregar. Forcei o descanso. Nem 5 minutos passaram até perceber que não era longe dela que ia descansar, mesmo que o longe fosse ela estar ao colo do pai, no sofá, ao lado de mim e pedi-a de volta. O T. ficou mais um pouco e acabou por sair. E ficámos só nós as duas. Esta primeira noite teve tanto de mágico e intenso, como de frustante e difícil. Não me conseguia mexer. Tinha acabado de passar por um cirugia após um dia inteiro de dores e emoções fortes e tinha pela minha frente uma noite inteira em que tive de ligar para a enfermeira de três em três horas para me pôr a C. ao peito e depois voltar a ligar quando ela terminava, para a tirarem e colocarem no berço.

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